Al Ahzab 33/4
Allah não fez em homem algum dois corações¹ em seu peito. E não fez de vossas mulheres, que repudiais com az- zihar,² vossas mães. E não fez de vossos filhos adotivos³ vossos filhos verdadeiros. Isto⁴ é o dito de vossas bocas. E Allah diz a verdade, e Ele guia ao caminho reto.
Dr. Helmi Nasr, 2015
¹ Dois corações: duas atitudes contraditórias. Esta sura refuta a dúbia atitude dos hipócritas, que professam a crença e a descrença, concomitantemente. Em outras palavras, é inadmissível que coexistam, no coração, o certo e o errado. Assim, errado é divorciar-se de suas mulheres, com o pretexto de que são como suas mães; e errado é considerar o filho adotivo como filho legítimo, segundo o mesmo versículo.
² Az-zihar, infinito de zahara, repudiar, de modo específico; derivado de zahr, costas: modalidade de repúdio conjugal, adotada pela comunidade árabe pré-islâmica, a qual consistia em o homem dizer à sua mulher que ela lhe era como as costas de sua própria mãe, o que valia dizer que ele e ela já não poderiam unir-se carnalmente.
³ Referência a Zaid Ibn Harithah, escravizado, ainda pequeno, por época do ataque de algumas tribos pré-islâmicas. Pertencia a Khadijah, primeira mulher do Profeta, a quem ela o doou. Com o advento do Islão e das leis de justiça social, que com ele chegaram, o pai de Zaid foi até o Profeta, para reivindicar-lhe o filho. O Profeta dirigiu-se, então, a Zaid e pediu-lhe que optasse por ele ou pelo pai legítimo. O rapaz decidiu-se por ficar com o Profeta, que, logo, o alforriou e o tomou, não mais por escravo, mas por filho adotivo. Desde então, ele passou a chamar-se Zaid Ibn Muhammad. Mas, o versículo veio para advertir Muhammad e os crentes de que o filho adotivo não é como o filho legítimo nem deve receber outro nome que o de sua família legítima. Segundo o Islão, a questão da adoção é antinatural, pois rompe o vínculo natural com a família de origem; obsta ao filho adotivo o acesso à herança, em a havendo, deixada pelos pais legítimos, e atenta contra a natureza, ameaçando a procriação, por induzir à adoção, e não à gestação natural.
⁴ Referência à questão dos filhos adotivos, já mencionada na nota anterior.
Deus não pôs no peito do homem dois corações;³ tampouco fez com que vossas esposas, as quais repudiais através do zihar,² fossem para vós como vossas mães, nem tampouco que vossos filhos adotivos³ fossem como vossos próprios filhos. Estas são vãs palavras das vossas bocas. E Deus disse a verdade, e Ele mostra a (verdadeira) senda.
Prof. Samir El Hayek, 1974
¹ “Dois corações no peito do homem”; duas atitudes inconsistentes, ou seja, ele servir a Deus e a Mammon; ou submeter-se tanto à Verdade como à Superstição; ou pretender hipocritamente uma coisa e fazer outra. Tal coisa é contrária à Lei e à Vontade de Deus. À parte da condenação da hipocrisia generalizada, dois costumes pagãos dos Tempos da Ignorância são mencionados, e sua iniqüidade apontada. Nem tampouco o homem pode amar duas mulheres com amor eqüitativo.
² Trata-se de um mau costume árabe, pelo qual o marido egoisticamente privava a esposa de seus direitos conjugais, e contudo a mantinha para si qual escrava, sem que ela ficasse livre para se casar novamente. Ele dizia palavras no sentido de que ela era como sua mãe. Após isso, ela não poderia fazer valer os seus direitos conjugais, mas não ficava livre do controle dele, para que pudesse contrair novas núpcias. Ver também os versículos 1-5 da 58ª Surata, onde isso é condenado no mais veemente dos termos, apontando para tanto o castigo. Um homem algumas vezes dizia tais palavras num acesso de raiva; elas não o afetavam, mas degradavam a posição da mulher.
³ Se um homem chamasse um filho de outro de “seu filho”, isso poderia criar complicações entre relações naturais e normais, se tomando mui literalmente. É mostrado que se trata apenas de uma maneira de falar, da parte dos homens, e não deve ser tomado ao pé da letra. Verdade é verdade, e não pode ser alterada pelo fato de os homens adotarem “filhos”. A “adoção”, no sentido técnico, não é permitida pela Lei muçulmana. Aquelas que foram “esposas de vossos filhos” estão entre os Graus Proibidos de casamento (versículo 23 da 4ª Surata); mas isso não se aplica aos filhos “adotados”.
Deus nunca coloca dois corações no peito de um homem. Tampouco faz de vossas esposas que repudiais, dizendo: “Sejam-me vossas costas tão proibidas quanto as costas de minha mãe”, verdadeiras mães vossas; nem faz de vossos filhos adotivos, verdadeiros filhos vossos. Essas são apenas palavras que vossas bocas proferem. Deus só diz a verdade e guia no caminho da retidão.
Mansour Challita, 1970
Allah não criou para nenhum homem dois corações no seu peito nem Ele há feito aquelas esposas vossas, das quais vos lhes chamardes mães, vossas mães, nem Ele há feito os vossos filhos adotivos vossos filhos verdadeiros. Issos são apenas palavras de vossas bocas, mas Allah fala a verdade, e Ele vos guia no caminho reto.
Iqbal Najam, 1988
Alcorão 33/4