¹ Agora, em quatro versículos (8-11), somos informados, novamente em alegoria, apesar de podermos considerá-los literalmente, se o desejarmos, com referência às coisas que acontecerão naqueles dias derradeiros. O brilho das estrelas tornar-se-á escuro; de fato, elas desaparecerão. A abóbada celeste se fenderá. As montanhas serão desintegradas e voarão, como se fossem pó. Todos os marcos do mundo físico, como os conhecemos, serão varridos para longe.
Quando as estrelas forem apagadas,
Mansour Challita, 1970
De modo que quando as estrelas forem obscurecidas,
¹ Referência aos versículos que orientam os homens, acerca da vida terrena. lembrando-os de nela bem proceder, para obter a bem aventurança.
Comunicadores da Mensagem,¹
Prof. Samir El Hayek, 1974
¹ Se compreendermos a passagem com referência aos profetas ou mensageiros de Deus, ou aos versículos de Revelação, o que seria apropriado nos versículos 5-6, nós também conseguiremos uma solução satisfatória da alegoria. Os profetas se sucederam, em uma série; os versículos do Alcorão foram revelados sucessivamente, à medida em que eram necessários. Em ambos os casos, isto ocorreu para o proveito espiritual do homem. Eles causaram grandes mudanças, num mundo espiritualmente decadente; arrancaram as raízes e os ramos das instituições malignas e os substituíram por outros, novos. Proclamaram as suas verdades em todas as direções, sem receio, nem favoritismo. Por seu intermédio, foram separados os homens de fé dos rebeldes contra as leis de Deus. Eles transmitiram uma mensagem, por intermédio da qual os justos foram inocentados pelo arrependimento, e os maus foram admoestados pelos seus pecados. Alguns exegetas consideram uma ou outra dessas alegorias e outros aplicam uma alegoria a uns poucos desses versículos e outros a outros poucos. Na nossa opinião, a alegoria é suficientemente ampla para dar a entender todos os significados que expusermos.
Por aqueles que fazem descer a mensagem,
Mansour Challita, 1970
E por aqueles que conduzem uma exortação em todo o redor
¹ Referência aos severos versículos que ameaçam os idólatras.
Que sobram impetuosamente,¹
Prof. Samir El Hayek, 1974
¹ Se considerarmos que a passagem não se refere aos ventos, mas aos anjos, estes são os agentes do mundo espiritual e desempenham funções similares, mudando e revolucionando a face do mundo. Eles vêm suavemente, como portadores de beneficência e de graça; são encarregados de punir e destruir pelo pecado, como é o caso dos dois anjos que apareceram a Lot. Eles distribuem as graças de Deus, como os ventos distribuem as boas sementes: eles separam o bem do mal, entre os homens e são os agentes, por intermédio dos quais, as mensagens e as revelações são conduzidas aos profetas.
¹ Al Mursalat: particípio passado feminino plural de arsala, enviar, e parece concordar com o substantivo feminino ayat, versículos, que está oculto, em árabe. Segundo alguns exegetas, porém, Al Mursalat se refere aos anjos; ou aos ventos, de acordo com outros. Essa palavra aparece no versículo 1 e dá nome a sura que, entre vários temas, enfatiza a Ressurreição e o Dia do Juízo, ilustrando-os com provas de sua vinda. Adverte, ameaçadoramente, os desmentidores desse Dia, através do refrão que se repete, dez vezes, a partir do versículo 15. Alvissara aos piedosos as delícias paradisíacas e, finalmente, lamenta os descrentes, que não crêem no Alcorão.
Pelos ventos enviados,¹ uns após os outros,²
Prof. Samir El Hayek, 1974
¹ Esta surata, altamente mística, começa com um apelo a cinco coisas, à media que vai apontando para a manifestação essencial no versículo 7, dizendo que o Dia da Justiça e do Julgamento está para vir e devemos nos preparar para isso. É difícil traduzir, mas fácil de compreender, se nos lembrarmos de que uma corrente tripla de alegoria se depreende desta passagem (versículos 1-7). As cinco cosias ou fases que serão agora consideradas em detalhe, referem-se aos ventos, no mundo físico, aos anjos, no mundo espiritual e aos Profetas, no mundo humano, ligando-o ao mundo espiritual. ² Se compreendermos a passagem como se referindo aos ventos, podemos ver que são fatores poderosos, no governo do mundo físico. Ele vêm, suavemente, como precursores das bênçãos da chuva e da fertilidade. Mas podem vir violentamente, em forma de furacão, destruindo tudo. Podem dispersar as sementes e podem separar a casca do grão, ou limpar o ar das epidemias; e podem, liberalmente, conduzir o som e, portanto as mensagens, e, metaforicamente, são instrumentos para tornar a revelação de Deus acessível aos que a ouvem. Todas estas coisas apontam para o poder e para a benevolência de Deus, e é-nos pedido que creiamos que sua promessa de graça e de justiça no além é, deveras, verídica.
E lembra-te do nome de teu Senhor, ao alvorecer e ao entardecer.
Dr. Helmi Nasr, 2015
E celebra o nome do teu Senhor, de manhã e à tarde.¹
Prof. Samir El Hayek, 1974
¹ São mencionados três métodos de oração e devoção: lembrar e celebrar sempre o nome de Deus; permanecer uma parte da noite em humildade prostração; e glorificar a Deus, em longas horas de vigília.
E invoca o nome de teu Senhor, pela manhã e à tarde
Então, pacienta quanto ao julgamento de teu Senhor e não obedeças, dentre eles,¹ a pecador nem a ingrato algum.
Dr. Helmi Nasr, 2015
¹ Eles: os inimigos do Profeta. O versículo faz alusão, também, a Utbah Ibn Rabiah e Al Walid Ibn Al Mughirah, referindo-se, respectivamente, a estes como pecador e ingrato, em virtude de haverem exigido do Profeta a renúncia da Mensagem.
Persevera, pois, até o Juízo do teu Senhor, e não obedeças a nenhum dos pecadores ou incrédulos,
Prof. Samir El Hayek, 1974
Espera, pois, pacientemente, as ordens de teu Senhor submetas nem aos pecadores nem aos renegados.
Mansour Challita, 1970
De modo que submete-te com paciência ao comando do teu Senhor, e não cedas a qualquer um que seja pecador ou um descrente dentre eles.
Por certo, fizemos descer o Alcorão sobre ti, com gradual descida..
Dr. Helmi Nasr, 2015
Em verdade, temos-te revelado (ó Mensageiro), o Alcorão, por etapas,¹
Prof. Samir El Hayek, 1974
¹ O Alcorão fora revelado por etapas, à medida em que a ocasião as requeria. A revelação desta surata foi uma das primeiras. Perseguições, abusos e falsas acusações estavam sendo levadas a efeito contra o Profeta. Mas é-lhes ordenado permanecer firme na sua missão. Esta surata se aplica a todos os que sofrem pela causa da verdade.
Sim, fomos Nós que fizemos descer diretamente o Alcorão sobre ti.
Mansour Challita, 1970
Em boa verdade, Nós é que te havemos revelado o Corão pouco a pouco.
Sobre eles,¹ haverá trajes de fina seda, verdes, e de brocado. E estarão enfeitados com braceletes de prata. E seu Senhor dar-lhes-á de beber puríssima bebida.
Dr. Helmi Nasr, 2015
¹ Eles: os bem aventurados.
Sobre eles haverá vestimentas verdes, de tafetá e de brocado, estarão enfeitados com braceletes de prata¹ e o seu Senhor lhes saciará a sede com uma bebida pura!
Prof. Samir El Hayek, 1974
¹ Os braceletes são descritos como sendo de ouro, em outra passagem. Mas como tudo é simbólico, para dar a idéia de raridade e suntuosidade, ou o ouro ou a prata servem ao propósito do simbolismo.
E eles estarão vestidos de verde, com tafetá e brocado. E terão, por enfeites, braceletes de prata. E seu Senhor os saciará com uma poção muito pura.
Mansour Challita, 1970
Sobre eles estarão vestuários de bela seda verde e brocado. E eles terão de usar os braceletes de prata. Ê o seu Senhor dar-lhes-â a beber uma bebida que é pura.
¹ Nome de outra das fontes do Paraíso, de água sápida.
De uma fonte (no Paraíso), chamada Salsabil.¹
Prof. Samir El Hayek, 1974
¹ Esta fonte, Salsabil, nos traz outra idéia metafórica. A palavra significa literalmente “solicitar o Caminho”. O caminho está, agora, aberto para a presença do Altíssimo.
Recolhida numa fonte que brota lá, denominada Salsabil.
E, nele, dar-se-lhes-ão de beber taça cuja mistura é de gengibre,
Dr. Helmi Nasr, 2015
E ali ser-lhes-á servido um copo de néctar, cuja mescla¹ será de gengibre,
Prof. Samir El Hayek, 1974
¹ Comparar com os versículos 5-6 desta surata, onde o copo de cáfur (cânfora) foi mencionado, para o frescor dos virtuosos, que já tiverem sido julgados. O segundo estágio é simbolizado pelos versículos 12-14, quando eles adentrarem o Paraíso com vestimentas de seda, e verificarem que a sua humildade anterior, na vida probatória, é recompensada com honra elevada, no mundo novo que adentraram. O terceiro estágio está nos versículos 15-21, onde estabelecer-se-ão bênçãos, com vestimentas de seda e brocado, com ornamentos e jóias, com um banquete e copo de zanjabil (gengibre).
E dar-lhes-ão para beber taças cheias de uma mistura com sabor de gengibre,
Mansour Challita, 1970
E lá dentro lhes será dada a beber uma taça temperada com gengibre—
E suas sombras estarão estendidas sobre eles, e seus frutos penderão docilmente.
Dr. Helmi Nasr, 2015
E as sombras (do vergel) os cobrirão, e os cachos (de frutos) estarão pendurados, em humildade,¹
Prof. Samir El Hayek, 1974
¹ Sem o sol e sem a lua não haverá, certamente, sombra, no sentido literal da palavra. Mas, para o conforto completo, na metáfora, haverá sombras protetoras para o descanso, com luz diferente da que há aqui. A idéia toda, na metáfora, porém, é de humildade. Mesmo as sombras mostram humildade. As “bandejas e copos de ouro” são mencionados em outra passagem. Como tudo o que é simbólico, o ouro ou a prata ou o cristal não importam. A idéia comunicada é de raridade, preciosidade e esplendor imaculado.
As árvores estenderão suas sombras por cima deles, e os frutos estarão ao alcance de suas mãos.
Mansour Challita, 1970
E a sua sombra será cerrada sobre eles, e os frutos apinhados serão trazidos ao alcance da mão.
Nele, estarão reclinados sobre coxins. Lá, não verão nem sol nem frio glacial.
Dr. Helmi Nasr, 2015
Onde, reclinados sobre almofadas, não sentirão calor nem frio excessivos,¹
Prof. Samir El Hayek, 1974
¹ O sol e a lua, como os conhecemos, não mais estarão ali. Haverá um novo mundo, num plano diferente. Mas para darmos uma idéia de conforto, lembramos o calor excessivo do sol, especialmente em climas tropicais, e o frio excessivo da lua, especialmente em climas do norte, e somos contrários a ambas as hipóteses. A lua não e mencionada no versículo, mas a palavra zamharir (frio excessivo) é algumas vezes usada para designar a lua.
Onde estarão reclinados em poltronas, ao abrigo do sol e do frio, felizes.
Mansour Challita, 1970
Lá se reclinando sobre canapés, eles não conhecerão aí nem calor extremo nem frio extremo.
E cedem o alimento – embora a ele apegados – a um necessitado e a um órfão e a um cativo,
Dr. Helmi Nasr, 2015
E porque, por amor a Ele, alimentam o necessitado, o órfão e o cativo.¹
Prof. Samir El Hayek, 1974
¹ O cativo: quando tomado literalmente, refere-se ao antigo estado de coisas, em que os cativos de guerra tinham de conseguir o seu próprio alimento ou a sua libertação; mesmo prisioneiros criminosos passavam fome, até que alguns amigos lhes fornecessem alimentos. Mas há um significado simbólico a mais, que se aplica aos indigentes, aos órfãos e aos cativos, ou seja, àqueles que se encontram neste estado, no sentido espiritual; aqueles que não possuem recursos mentais ou morais, ou que não têm ninguém que cuide deles, estando num cativeiro social, moral ou econômico.
Aqueles que dão de seus bens, embora apegados a eles, ao necessitado. ao órfão e ao cativo, dizendo-lhes:
Mansour Challita, 1970
E eles dão de comer, por amor d’Ele, ao pobre, ao órfão e ao prisioneiro,
Por certo, criamos o ser humano de gota seminal, mesclada¹ para pô-lo à prova;² então, fizemo-lo ouvinte, vidente.
Dr. Helmi Nasr, 2015
¹ Ou seja, da junção do espermatozóide com o óvulo. ² Ao conferir aos homens preceitos e mandamentos e responsabilidades. Deus pode provar a obediência ou não deles.
Em verdade, criamos o homem, de esperma misturado,¹ para prová-lo, e o dotamos de ouvidos e vistas.
Prof. Samir El Hayek, 1974
¹ Misturado: o óvulo feminino tem de ser fertilizado com o esperma masculino, antes que o novo animal nasça. O homem, como animal, possui esta humilde origem. Mas foram-lhe dadas certas faculdades, para receber instruções e possuir discernimento, espiritual e intelectual. Por isso, a sua vida tem um significado: com uma certa dose de livre-arbítrio, é legatário de Deus na terra. Ele deve ser, porém, treinado e testado, e este é todo o problema da vida humana.
Criamos o homem para que pudéssemos comprová-lo. E outorgamos-lhe o ouvido e a vista.
Mansour Challita, 1970
Em verdade Nós criámos o homem de uma gota de esperma misturada para que pudéssemos prová-lo; depois Nós fizemo-lo ser humano que ouve e vê.
¹ Com efeito, transcorreu, para o ser humano, um lapso de enorme tempo, em que não era cousa Mencionada.²
Dr. Helmi Nasr, 2015
¹ Al Insan: o ser humano. Esta palavra aparece nos versículos 1 e 2 e denomina a sura, que trata da criação do ser humano, a partir de Adão, de suas provações e de sua disposição de ser ou não grato a Deus. Alude ao castigo dos descrentes e às delícias que experimentarão os crentes. Refere-se ao Profeta, a quem Deus agracia com a Revelação do Alcorão, rogando-lhe, ao mesmo tempo, que paciente, quanto às determinações de seu Senhor. Admoesta a quem prefere à Derradeira Vida a vida transitória. Salienta que esta sura é lembrança para quem queira beneficiar-se, mormente se Deus assim quiser. Finalmente, deixa claro que a misericórdia e o castigo de Deus, para o ser humano, dependem da própria vontade de Deus. ² Antes de receber a alma, o ser humano, ou seja Adão, não passava de barro insignificante.
Acaso, não transcorreu¹ um longo período, desde que o homem nada era?
Prof. Samir El Hayek, 1974
¹ É certo que o mundo físico exista bem antes de o homem ter sido mencionado, como os registros geológicos provam. É também verdade que o mundo espiritual exista bem antes de o homem entrar em cena. O homem, aqui, é tomado num sentido genérico.
Não houve uma época da história em que o homem não era mencionado?
Mansour Challita, 1970
Acaso não, há chegado ao homem um período de tempo em que ele não era coisa de que se falasse.
Não foi a sua origem uma gota de esperma ejaculada¹
Prof. Samir El Hayek, 1974
¹ O argumento, aqui, deve ser exposto da seguinte forma: a sua origem animal torna-o não mais do que um bruto; o seu desenvolvimento fetal continua como o de um animal; então, em algum estágio, aparecem os membros e a forma humana; o espírito divino é-lhe insuflado; é-lhes aperfeiçoada a forma, para o seu alto destino. A despeito disso, o mistério do sexo continua na sua natureza: somos almas viventes, mas homens e mulheres. Deus, que criou estas maravilhas, não teria, acaso, poder para ressuscitar os mortos?