¹ Al Humazah: o difamador. Esta palavra aparece no versículo 1 e nomeia a sura, que promete nefasto castigo a quem difama os outros e acumula riquezas, crendo que estas o tornarão eterno. A sura ameaça lançá-lo no Fogo crepitante, que lhe arruina o corpo e o coração, e o envolverá, como que atado a colunas, sem escapatória alguma. ² Alusão aos inimigos do Profeta, tais como Umayiah Ibn Khalaf e Al Walid Ibn Al Mughirah, que o difamaram, em sua ausência.
Ai de todo o difamador, caluniador¹
Prof. Samir El Hayek, 1974
¹ Três defeitos são, aqui, condenados, nos mais veementes termos: (1) provocação de escândalo, ao falar, ou sugerir o mal a um homem ou uma mulher, por meio de palavras ou insinuações, ou posturas, ou mímicas, ou sarcasmo, ou insulto; (2) difamação do caráter de terceiros, por trás das suas costas, mesmo que as coisas sugeridas sejam verdadeiras, sendo contudo, más as intenções; (3) entesouramento de riquezas, não para uso e serviço daqueles que necessitam delas, mas em um miserável açambarcamento, como se isso pudesse prolongar-lhe a vida de avarento ou proporcionar imortalidade, sabendo-se que a avareza, por si só, é uma espécie de escândalo.
¹ Al-Asr; o tempo genérico, que integra todos os instantes comprobatórios do poder de Deus. Aliás, esta palavra, também, admite os significados de eternidade; horas vesperais; ou a terceira oração, que ocorre nas horas vesperais. Ela surge no versículo 1 e nomeia a sura, em que Deus jura, pelo tempo comprobatório de Seu poder, que o ser humano se encontra em perdição, não porém os crentes que obram bem e se recomendam, uns aos outros, a paciência e a Verdade.
Pela era,¹
Prof. Samir El Hayek, 1974
¹ Asr pode significar: (1) o Tempo atrás das eras, ou um longo período, que, nesse caso, se aproxima da idéia abstrata do Tempo (Dahr), que algumas vezes foi deificado pelos árabes pagãos; (2) ou a tardezinha, da qual a oração canônica Asr toma nome. O uso místico de ambas as idéias é compreendido aqui. É feita uma referência ao Tempo, como uma das criações de Deus, a respeito do qual todos sabem algo, mas cujo significado exato ninguém sabe, plenamente, explicar. O tempo é inexorável e destrói todas as coisas materiais.
Ora, se soubésseis a ciência da Certeza, renunciaríeis a ostentação.
Dr. Helmi Nasr, 2015
Qual! Se soubésseis da ciência certa!¹
Prof. Samir El Hayek, 1974
¹ Nós ouvimos, pela boca de alguém, ou inferimos, de algo que conhecemos; isto se refere ao nosso próprio estado mental. Se instruíssemos as nossas mentes desta maneira, saberíamos valorizar melhor as coisas profundas da vida, e não desperdiçaríamos todo o nosso tempo em coisas efêmeras. Mas se não usarmos as nossas faculdades, de raciocínio agora, veremos, com os nossos próprios olhos, o Castigo pelos nossos pecados. Estará certamente à vista.
Não! Se soubésseis de ciência certa,
Mansour Challita, 1970
De modo algum! Se vós soubésseis com um saber seguro.
¹ At-Takathur: infinitivo substantivado do verbo takathara, rivalizar em aquisição de bens, ou ostentar riqueza. Essa palavra surge no versículo 1 e dá nome à sura, que recrimina os homens por seu materialismo e pela jactância, que conservarão até morrer. Adverte-os das conseqüências desse proceder, atemorizando-os com o Fogo infernal, destinado aos faltosos, o qual verão, no Dia do Juízo, quando serão interrogados das comodidades e delícias da vida terrena. ² A preocupação materialista dos idólatras de Makkah tão exacerbada que lhes não sobra tempo para cumprir as obrigações religiosas.
A cobiça vos entreterá,¹
Prof. Samir El Hayek, 1974
¹ A ganância, ou seja, a paixão em procurar um aumento de riqueza, de posição, do número de adeptos ou seguidores ou sustentadores, de produção e organização em massa, poderá afetar um indivíduo apenas, ou ainda uma sociedade ou nação inteira. O exemplo ou a rivalidade com outras pessoas, em tais expedientes, quando se torna desordenado e chega a monopolizar a atenção, não deixa tempo para que sigamos as coisas elevadas da vida; uma clara admoestação é aqui representada, do ponto de vista espiritual. O homem poderá estar imbuído destas coisas, até que a Morte se aproxima, sendo que, então, ele olhará para trás, para uma vida desperdiçada, no que diz respeito às coisas elevadas.
A rivalidade vos distrai de tudo o mais
Mansour Challita, 1970
Olhando um as outro para mais havia nos distraído.
Então, quanto àquele, cujos pesos em boas ações forem pesados,
Dr. Helmi Nasr, 2015
Porém, quanto àqueles cujas ações pesarem na balança,¹
Prof. Samir El Hayek, 1974
¹ Certamente, a Balança é metafórica. As boas ações serão pesadas e aquilatadas. Tal aquilatamento será uma espécie mais condigna e justa, porquanto levar-se-ão em conta as intenções, as tentações, as provocações, as condições concernentes, os antecedentes, as emendas subseqüentes, e todas as circunstâncias.
Nesse dia, aquele cujas ações fizerem pender a balança
Mansour Challita, 1970
Então, quanto aquele cujo prato da balança estiver pesado.
¹ Até as mais altas montanhas se desprenderão do solo e voarão pelos ares como flocos de lã.
E as montanhas como lã cardada!¹
Prof. Samir El Hayek, 1974
¹ As montanhas são estruturas sólidas, o que dá a idéia de que nada poderia movê-las. No entanto, naquele tremendo cataclismo, elas estarão dispersas, parecendo flocos de lã eriçada ou cardada. Isto constitui uma metáfora para mostrar que aquilo que consideramos muito substancial nesta vida, será um eterno nada no mundo espiritual.
Ocorrerá, um dia, quando os humanos forem como as borboletas espalhadas,¹
Dr. Helmi Nasr, 2015
¹ Os homens, atônitos, se dispersarão, em bandos, como a revoada de frágeis borboletas.
(Acontecerá) no dia em que os homens estiverem como mariposas dispersas,¹
Prof. Samir El Hayek, 1974
¹ As mariposas são criaturas frágeis e leves. A visão de tais insetos, dispersos num violento torvelinho, dá algo da idéia de confusão, de desgraça e de desamparo, ante os quais o homem se acabrunhará no Dia do Acerto de Contas velhas memórias aparecerão como um livro quase esquecido. Novas esperanças serão coisas vagas no novo mundo, que acaba de surgir no horizonte.
Nesse dia, os homens serão como borboletas dispersas
Mansour Challita, 1970
Um dia em que a humanidade será como borboletas espalhadas,
¹ Al Qariah: uma das designações do Dia da Ressurreição. É particípio presente, feminino, singular, de qaraa, bater, com violência, em alguma cousa; surpreender-se, pasmar-se. Como particípio presente substantivado, significa a calamidade, a enorme desgraça, tal como será, quando ocorrerem os eventos anunciadores do Dia da Ressurreição. Essa palavra aparece nos versículos 1, 2 e 3 e nomeia a sura, que vaticina o Dia da Ressurreição, que pasmará a Humanidade. Relaciona-lhe algumas cenas, quando os homens se espalharão, atônitos, como panapanás de borboletas, e as montanhas se dispersarão pelos ares: desse caos, livrar-se-ão, apenas, os bem aventurados, por suas boas obras, ficando os mal-aventurados mergulhados nas abissais profundezas de suas más obras.
A calamidade!¹
Prof. Samir El Hayek, 1974
¹ O Dia da Calamidade e do clamor será o Dia do Julgamento, quando toda a presente ordem de coisas ruirá, com uma convulsão colossa. Todos os nossos marcos presentes estarão perdidos. Constituirá uma experiência atordoante, para começar, mas isso inaugurará um novo mundo de valores verdadeiros e permanentes, no qual todas as ações humanas terão as suas verdadeiras e justas conseqüências, como se fossem pesadas na balança.
Então, não sabe ele que será recompensado, quando for revolvido o que há nos sepulcros,
Dr. Helmi Nasr, 2015
Ignoram eles, acaso, que quando os que estão nos sepulcros forem ressuscitados,¹
Prof. Samir El Hayek, 1974
¹ Os corpos dos mortos, as tramas secretas, os maus pensamentos e as imaginações, todos desde há muito sepultados, apresentar-se-ão perante o Trono do Julgamento de Deus. Ao invés de estarem intimamente escondidos ou esquecidos, como deverão estar na consciência da humanidade, estarão presentes na conscientização de Deus, que tudo abrange, e que jamais sofre de sono ou de fadiga.
Não sabe, acaso, que quando as sepulturas forem revolvidas
Mansour Challita, 1970
Não sabe pois um desses tais que, quando o conteúdo das sepulturas for erguido,
¹ Al Adiyat: particípio presente, feminino plural, de ada, correr, e se refere aos velocíssimos cavalos que correm nos campos de batalha. A palavra aparece no versículo 1 e nomeia a sura, que, de início, traz outro juramento divino, para afirmar que o ser humano é renegador das graças de seu Senhor, o que ele próprio testemunha. A sura, ainda, objurga o veemente materialismo humano e alude à Ressurreição e ao inevitável Dia da Conta.
Pelos corcéis¹ resfolegantes,
Prof. Samir El Hayek, 1974
¹ As cláusulas substantivas encontram-se nos versículos 6-8 desta Surata, sendo que as metáforas e os símbolos que reforçam a lição se encontram aqui, nos versículos 1-5. Estes símbolos contêm, pelo menos, três espécies de significados místicos: (1) olhai os corcéis (éguas ou camelos rápidos) resfolegantes, indo para a guerra, para o benefício dos seus donos. Vão arrancando chispas de fogo, com os seus cascos, à noite, comandados pelos seus cavaleiros; pela manhã, estes dirigem os seus corcéis para casa, propiciando cavalheirescamente ao inimigo os benefícios da luz do dia. E a despeito do cintilar do aço das armas dos seus inimigos, eles intrepidamente penetram no meio dos adversários, arriscando as suas vidas pela causa. Demonstra, acaso, o irregenerado, fidelidade ao seu Senhor, Deus? Pelo contrário, é mal agradecido. Demonstra-o por suas ações: seu intenso amor pelo ganho, pela riqueza e pelas coisas perecíveis; (2) por meio de metonímia, a brava fidelidade do cavalo de guerra talvez signifique os homens bravos e verdadeiros, que se agrupam sob o estandarte de Deus e o levam à vitória, em contraste com a poltronaria e inoperância dos irregenerados; (3) todo o conflito, toda a luta e toda a vitória possam ser aplicados à batalha contra aqueles que são apanhados e esmagados, no campo do Mal.
Então, quem houver feito um peso de átomo de bem o verá,
Dr. Helmi Nasr, 2015
Quem tiver feito o bem, quer seja do peso de um átomo,¹ vê-lo-á.
Prof. Samir El Hayek, 1974
¹ Zarrat: do peso de uma formiga, o menor peso de ser vivente, em que o homem poderia pensar. Metaforicamente, consiste na mais sutil forma em que o bem e o mal podem ser levados em consideração; e assim será feito, aberta e convincentemente: ele “o verá”.
Quem tiver feito um bem do tamanho de uma formiga, o verá.
Mansour Challita, 1970
Quem quer que faça o bem em um átomo de peso, o verá então.
¹ Um terremoto, se acompanhado de erupções vulcânicas, lança para cima penedos colossais de lava, de debaixo da crosta terrestre. Estes são lançados para cima, como ser constituíssem fardos, para uma Terra personificada. Podem conter todas as espécies de minerais, ou tesouros enterrados em seus esconderijos. Então, na grande e final convulsão, os mortos, desde há muito enterrados e esquecidos, levantar-se-ão; os assuntos e as intenções, secretamente ocultos e metaforicamente enterrados, serão trazidos à luz do dia, e a justiça será feita, no pleno fulgor da Verdade absoluta.
¹ Az-Zalzalah: infinitivo substantivado do verbo zalzala, mover algo com força; fazer tremer. Essa palavra surge no versículo 1 e nomeia a sura, que trata dos eventos apocalípticos do Dia do Juízo: o terremoto universal, a saída dos tesouros e mortos enterrados; o estupor humano e suas aflitas indagações; o encontro com a recompensa: o bem pelo bem, o mal pelo mal. ² O tremor anunciador da Ressurreição e do Juízo Final.
Quando a terra executar o seu tremor predestinado,¹
Prof. Samir El Hayek, 1974
¹ Para o observador humano comum, um terremoto violento constitui um fenômeno terrificante, quer pela sua subitaneidade, quer pela sua origem misteriosa, quer pelo seu poder de desarraigar e destruir os mais sólidos edifícios, quer por trazer das entranhas da terra, para a superfícies, as matérias mais estranhas. O Evento Assolador (88ª Surata), que indica a ocasião do Julgamento, constituir-se-á de uma convulsão maior e mais abrangente do que qualquer terremoto que conhecemos. Todavia, os incidentes dos terremotos talvez nos dêem alguma idéia desse Evento Supremo, que assolará o mundo.
Sua recompensa, junto de seu Senhor, são os Jardins do Éden, abaixo dos quais correm os rios; nesses, serão eternos para todo o sempre. Allah se agradará deles, e eles se agradarão dEle. Isso para quem receia a seu Senhor.
Dr. Helmi Nasr, 2015
Cuja recompensa está em seu Senhor: Jardins do Éden, abaixo dos quais correm os rios, onde morarão eternamente. Deus se comprazerá com eles e eles se comprazerão n’Ele. Isto acontecerá com quem teme o seu Senhor.
Prof. Samir El Hayek, 1974
Sua recompensa está com seu Senhor: os jardins do Éden nos quais correm os rios, onde morarão para todo o sempre. Deus está satisfeito com eles, e eles estão satisfeitos com Deus. Assim é recompensado aquele que teme a seu Senhor.
Mansour Challita, 1970
A sua recompensa está com o seu Senhor; Jardins de Eternidade, através dos quais correm rios; lá dentro eles morarão para sempre. Allah estará bem satisfeito com eles, e eles estarão bem satisfeitos com Ele. Isso é para o que teme o seu Senhor.