¹ Há o caso do órfão, literal e figurativamente. O próprio Profeta foi um órfão. Seu pai, Abdullah, morreu jovem, antes de a criança ter nascido, não deixando haveres alguns. Sua mãe, Amina, possuía saúde deficiente, e ele foi precipitadamente criado por sua aia, Halima. Sua própria mãe morreu quando ele tinha apenas seis anos de idade. Seu idoso avô, Abdul Muttalib, tratou dele como se fosse seu próprio filho, mas morreu dois anos mais tarde. Dali por diante, seu tio, Abu Tálib, tratou dele, como se fora seu próprio filho. Deste modo, ele foi órfão por várias vezes, e mesmo assim o amor que recebeu, de cada uma das pessoas que tomaram conta dele, superou o costumeiro amor paterno ou materno.
¹ Conta a tradição que, havendo-se demorado o anjo Gabriel em-revelar ao Profeta algo mais da Mensagem de Deus, os idólatras de Makkah não hesitaram em dizer que o “Deus de Muhammad o abandonara, e que o detestava”. Para esclarecimento, foi revelado este versículo.
Que o teu Senhor não te abandonou, nem te odiou.
Prof. Samir El Hayek, 1974
Teu Senhor não te abandonou nem te odeia.
Mansour Challita, 1970
O teu Senhor não te há abandonado, nem Ele te odeia,
¹ Ad-Duha: substantivo derivado do verbo daha, aparecer. O substantivo se refere ao momento em que o sol aparece, nos céus, em pleno esplendor. Essa palavra, que surge no versículo 1, denomina a sura, em que há juramento pelo tempo da ação e da inércia, de que Deus jamais desamparou o Profeta e jamais o abominou, como pretenderam os idólatras. Alude ao que lhe conferirá, na Derradeira Vida, superior ao que lhe confere na primeira, acresce, ainda, que lhe outorgará tantas graças, da mesma forma como, em épocas anteriores, lhas outorgara. Finalmente, a sura conclama à benevolência para com o órfão, à piedade para com o mendigo, e à divulgação das graças obtidas, em sinal de gratidão a Deus.
Pelas horas da manhã,¹
Prof. Samir El Hayek, 1974
¹ É a luz plena do sol quando, em seu esplendor, brilha, em contraste com as sombras da noite, que já passou. As crescentes horas da luz da manhã, do nascer do sol até ao meio-dia, equiparam-se ao crescimento da vida espiritual e do trabalho, ao passo que a quietude da noite constitui, para aqueles que a entendem, apenas uma preparação para isso. Não devemos imaginar que a serenidade ou a quietude da noite constitua um desperdício, ou signifique estagnação, em nossa vida espiritual.
Que aplica os seus bens, com o fito de purificá-los,¹
Prof. Samir El Hayek, 1974
¹ A palavra-raiz árabe, zacca, tanto implica em aumento como em purificação, sendo que ambos os significados devem, aqui, estar contidos e ser entendidos. A riqueza (compreendida, tanto literal, como metaforicamente) existe, não para satisfações egoísticas, nem para demonstrações de ócio. Ela é mantida em custódio. Poderá, intrinsecamente, constituir-se em uma prova, em cujo desempenho o homem que for bem-sucedido será um homem de vida pura; e mesmo que ele tenha sido benevolente antes, o uso adequado da sua riqueza aumentará as suas posição e dignidade, no mundo moral e espiritual.
¹ Deus, em Sua infinita misericórdia, proveu substancial orientação para as Suas criaturas. Para toda a Sua criação há marcos, indicativos do caminho certo. Para o homem Ele concedeu os cinco sentidos da percepção, juntamente com as faculdades mentais e espirituais, a fim de que estas se coordenem com as suas percepções físicas e o conduzam cada vez mais para o alto, em pensamento e em sentimento. Ademais, Ele enviou homens inspirados, para a orientação e para os ensinamentos mais vantajosos.
¹ O mistério do sexo ocorre em todas as formas de vida. Há uma atração irresistível entre os opostos; cada um realiza as suas próprias funções, possuindo características especiais, primárias e secundárias, dentro de esferas limitadas, e ainda assim ambos têm características comuns em muitas outras esferas. Cada um é indispensável ao outro. O amor, no sentido mais nobre, é o paradigma da devoção celestial e o mais alto grau de benevolência; no seu sentido degradante, ele conduz aos pecados mais chãos e aos piores crimes. Aqui, então, é necessário um esforço, no sentido de se alcançar o mais alto grau de benevolência.
¹ Al-Lail: a noite. Esta palavra, tomada do versículo 1, nomeia a sura, em que há juramento de que os esforços humanos são inúmeros, certos uns, errados outros, e salienta que ao esmoler, temente de Deus e seguidor da verdadeira religião, ser-Ihe-á facilitado o caminho que o levará ao Paraíso, ao passo que o mesmo não ocorrerá com o avaro, arrogante e descrente. A sura, ainda, enfatiza que a Deus pertencem as duas vidas, a terrena e a Derradeira Vida. Finalmente, admoesta os homens de um Fogo ardente, destinado, apenas, aos infelizes.
Pela noite, quando cobre (a luz),¹
Prof. Samir El Hayek, 1974
¹ A evidência de três coisas é invocada, a saber: a noite, o dia e o mistério do sexo, sendo que a conclusão é manifestada no versículo 4, onde se lê que as metas dos homens diferem umas das outras. Similarmente, no entanto, há contrastes, na própria natureza. Que contraste poderia ser maior do que aquele existente entre a noite e o dia? Quando a noite estende o seu manto, a luz do sol fica escondida, mas não perdida. O sol ali está, em seu lugar, e reaparecerá, no seu devido tempo. Comparar com a 91ª Surata, versículos 3-4. O homem que almeja diversas metas talvez as encontre, devido à sua posição. A luz de Deus é, para ele, obscurecida, mas ele deve esforçar-se tenazmente, no sentido de se colocar num posição que a alcance em toda a sua plenitude.
¹ O par seguinte consiste do deslumbrante e altíssimo firmamento, e da terra, debaixo dos nossos pés, dilatando-se e ampliando os nossos horizontes. O céu nos dá a chuva e a terra nos dá o alimento.
¹ O par seguinte consiste, não de luminárias, mas de condições, de períodos de tempo, ou seja, o dia e a noite. Aquele revela a glória do sol e esta o esconde da nossa visão.
¹ O primeiro par seguinte do glorioso sol, a fonte da nossa luz e da nossa vida material, e da lua que o segue, subordinada a ele, na tarefa de iluminar o nosso mundo.
¹ Ach-Chams: o sol. Esta palavra, que aparece no versículo 1, nomeia a sura, que, por meio de juramentos sobre cousas que atestam o poderio e a unicidade divinos, afirma que será bem aventurado quem purifica sua alma com fé e obediência, ao contrário de quem a degrada com a descrença e a desobediência. A sura, ainda, relembra a transgressão da tribo de Thamud e o castigo que sofreram, e fá-lo, para advertir os desmentidores de que os que renegam seus mensageiros sofrem sofrem aniquilação. No final, a sura patenteia que Deus é o Soberano Aboluto e nada receia quanto aos castigos que inflige aos pecadores.
Pelo sol¹ e pelo seu esplendor (matinal),
Prof. Samir El Hayek, 1974
¹ Seis tipos de fenômenos da portentosa obra de Deus na natureza são tomados, em três pares, como símbolo ou evidência da providência de Deus, bem como os contrastes da Sua sublime criação que, contudo, conduzem à harmonia cósmica (versículo 1). Então (versículos 7-8) a alma do homem, com regularidade e proporção internas, em suas capacidades e faculdades proporcionadas por Deus, é posta em pauta, como tendo sido dotada do poder de discriminação entre o bem e o mal.