¹ At-Tariq: particípio presente substantivado do verbo taraqa, bater à porta, tal como o faz o visitante noturno, para ser recebido, quando chega a algum lugar. Posteriormente, a palavra passou a denominar o próprio visitante noturno, seja quem ou o que for. Essa palavra, que surge nos versículos 1 e 2, nomeia a sura, que arrola provas da Onipotência de Deus e confirma que cada alma é custodiada por anjos; a sura exorta, ainda, o ser humano a refletir em suas origens, desde a ínfima gota seminal: só, assim, poderá ele entender o poder de Deus de ressuscitá-lo, após a morte; continua, com o juramento de que o Alcorão é Mensagem séria, honorável, não um gracejo, embora os idólatras o detraiam e o neguem, e tramem insídias contra ele, ignorando que Deus, que tudo sabe e tudo vê, é O mais Poderoso em malograr essas insídias. Finalmente, roga ao Profeta que tolere os descrentes, até o advento do Castigo Final.
Pelo céu e pelo visitante noturno;¹
Prof. Samir El Hayek, 1974
¹ A invocação, aqui, constitui-se de um singelo e místico símbolo, a saber, o céu, com o seu visitante noturno, sendo que a proposição substantiva se encontra no versículo 4: “Cada alma tem sobre si um guardião angelical”. Na surata anterior, constatamos a perseguição aos partidários da Causa de Deus, e ficamos cientes de como Deus os protegeu. Aqui, é apresentado o mesmo tema, mas sob outro aspecto. Na escuridão dos céus aparece mais brilhantemente a luz da mais brilhante estrela. Assim, na noite da escuridão espiritual — quer por ignorância, quer por desespero — brilha a gloriosa estrela da Revelação Divina. Pelo mesmo indício, o homem afeito à Fé e à Verdade, nada terá a temer. Deus protege os Seus.
A “Estrela Fulgurante” é compreendida como sendo a Estrela d’Alva, por uns, e o planeta Saturno, por outros, e, ainda Sírio ou uma estrela cadente. Achamos que o melhor será tomá-la como “estrela”, no sentido coletivo ou genérico, porquanto as estrelas brilham todas as noites do ano, e brilhos fulgurantes são mais destacáveis, nas noites mais escuras.
¹ Inscrito em uma Tábua Preservada, isto é, a Mensagem de Deus não é efêmera, é eterna. A “Tábua” é “preservada”, ou resguardada contra a corrupção (ver a 15ª Surata, versículo 9), porque Mensagem de Deus deverá durar para sempre. Tal Mensagem constitui a “base do Livro”(ver a 3ª Surata, versículo 7 e respectiva nota).
Por certo, os que provaram¹ os crentes e as crentes, em seguida, não se voltaram arrependidos, terão o castigo da Geena, e terão o castigo da Queima.
Dr. Helmi Nasr, 2015
¹ Ou seja, os que queimaram os crentes.
Sabei que aqueles que perseguem os fiéis e as fiéis e não se arrependem, sofrerão a pena do inferno, assim como o castigo do fogo.
Prof. Samir El Hayek, 1974
Aqueles que perseguem os crentes e as crentes e não se arrependem, receberão o castigo da Geena, o castigo das chamas.
Mansour Challita, 1970
Quanto àqueles que perseguem os homens crentes e as mulheres crentes e depois se não arrependem, para eles é o castigo do Inferno, e para eles é o castigo de arder.
¹ Referência aos que, no fogo, queimaram os crentes, por ordem de Zu Nuwas, rei judeu da tribo Himiar, no Yêmen. Ao ouvir que o povo de Najaran, uma região da Arábia Saudita, abraçara o cristianismo, foi até eles, com seu exército, e obrigou-os a renunciar ao novo credo, caso contrário seriam queimados. Diante da unânime recusa de todos, Zu Nuwas ordenou a escavação de fossos, que mandou encher de achas; incendiando-as, nelas atirou os cristãos.
Destruíram-se a si mesmos os donos do fosso (do fogo),¹
Prof. Samir El Hayek, 1974
¹ Quem eram os executantes do fosso do fogo, no qual eram queimados as pessoas por causa da sua fé? As palavras estão generalizadas, e não precisaremos procurar por nomes em particular, a não ser para efeito de ilustração. Na história antiga e na Europa Medieval, muitas vidas foram sacrificadas na fogueira, porquanto as vítimas não se conformavam com a religião estabelecida. Na tradição árabe, encontramos a história de Zu-Nuwas, o último rei himiarita, do Iêmen, judeu por religião, que perseguia os cristãos de Najran, sendo constatado que queimou muitos deles na fogueira. Parece que ele viveu na última metade do sexto século cristão, fazendo parte da geração imediatamente precedente ao nascimento do Profeta, no ano 570 d.C.
¹ Por quem quer que testemunhe o Dia do Juízo, seja o Profeta Muhammad, ou outra pessoa qualquer. ² Pelo que poderá ser testemunhado: o Dia do Juízo, ou qualquer outro evento escatológico.
E pela testemunha e por aquilo de que presta testemunho¹
Prof. Samir El Hayek, 1974
¹ O significado literal é claro, mas a sua aplicação metafórica tem sido explicada numa considerável variedade de maneiras por diferentes exegetas. As palavras são claramente compreensivas e deveriam, achamos, ser entendias em conexão com o Julgamento. Então, as testemunhas seriam: o Profeta, o Próprio Deus; os anjos registradores; os mal utilizados membros do próprio pecador; o seu registro de ações; o próprio pecador. Assunto do testemunho poderá ser a ação ou o crime, ou o pecador contra quem o testemunho clama. A invocação destas contingências significa que o pecador não poderá possivelmente escapar às conseqüências de seu crime. Ele deverá arrepender-se, procurar a Misericórdia de Deus, e emendar-se na vida.
¹ Al Buruj: plural de burj, que, etimologicamente, quer dizer torre ou castelo, mas, também, pode designar as constelações ou asterismos. Essa palavra aparece no versículo 1 e denomina a sura, que se abre com o juramento, acerca da Onipotência de Deus, a fim de confirmar que os agressores dos crentes serão amaldiçoados, como o foram os antepassados, que procederam da mesma forma. Faz ligeira alusão aos transgressores que queimaram os crentes, em fossos. Promete aos crentes boas recompensas e, aos pecadores, o nefasto castigo. Lembra que o ser humano sempre se inclinou, em todas as fases da história, para a negação da Verdade. Finalmente, conclui que o Alcorão é a base da Verdade, e longe está de encerrar dúvidas, pois se encontra registrado em tábua guardada junto de Deus.
Pelo céu, possuidor das constelações¹
Prof. Samir El Hayek, 1974
¹ Eis aqui uma invocação, dos três símbolos dos versículos 1-3, sendo que a proposição substantiva encontra-se encerrada nos versículos 4-8, constituindo-se duma denúncia dos perseguidores corruptos dos devotos de Deus, perseguidores estes que queimavam os virtuosos, tão-somente por causa da sua Fé. Os três símbolos são: (1) o céu glorioso, com um amplíssimo acúmulo de constelações, designando os doze signos do Zodíaco; (2) o Dia do Julgamento, em que todo o mal será punido; (3) certas pessoas que testemunharão, e certas pessoas ou circunstâncias que serão objetos dos testemunhos.
¹ a astronômica lua cheia, às nossas vistas, não dura senão um momento. No momento e que a lua está cheia ela começa a declinar, e no momento em que ela está em seu “desfalecimento interlunar”, ela novamente inicia a sua carreira para tornar-se uma lua nova. Assim é a vida do homem, aqui embaixo; não é fixa ou permanente, tanto nas suas fases materiais, ou, o que é ainda mais estarrecedor, em suas fases mais sutis, intelectual, emocional e espiritual.
E, quando a terra for estendidaDr. Helmi Nasr, 2015
E quando a terra for dilatada¹
Prof. Samir El Hayek, 1974
¹ A Terra é um globo, encerrando o seu bojo muitos segredos e mistérios, ouro e diamantes em suas minas calor e forças magnéticas, em suas entranhas, bem como corpos de incontáveis gerações de homens, enterradas em seu solo. Com a sua erupção, todas essas coisas serão lançadas para fora; ela perderá a sua forma e deixará de existir.
Um significado mais místico encontra-se além do sentido comum da extinção dos céus e da terra, como os ventos. As nossas idéias, quanto a eles, os seus conteúdos subjetivos, com relação a nós mesmos, perderão também todo o propósito e consistência e desaparecerão, perante a veracidade eterna.